23 de dez. de 2017

DOM BETO BREIS DARÁ CATEQUESE SOBRE MISTÉRIO DO NATAL NESTE SÁBADO (23) EM JUAZEIRO.


            Papai Noel, compras, presentes, ceia natalina... Afinal, será isso a essência do Natal? O que faz deste tempo tão especial a ponto de as casas serem enfeitadas, as músicas ganharem novo tom, a afabilidade entre as pessoas tornar-se mais presente? Qual é o mistério que está por trás do natal e que corre o risco de se perder quando colocamos em primeiro lugar coisas que não são o seu verdadeiro sentido? É para tratar desse assunto - e sobretudo da beleza escondida do "mistério do Natal" - que Dom Beto Breis, bispo de Juazeiro, fará neste sábado uma Catequese especial na Catedral-Santuário N. Sra. das Grotas. Venha (re)descobrir a verdadeira beleza do acontecimento que dividiu a história da humanidade!

Catequese "O mistério do Natal"
Na Catedral-Santuário N. Sra. das Grotas
Neste sábado, dia 23, às 17h
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NATAL: FESTA DA HUMILDADE DE DEUS, FESTA DA HUMANIDADE.


Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.
Natal é a festa da Humanidade. É Celebração carregada de otimismo antropológico: se o próprio Deus assume nossa condição, quanto valor não haverá cada pessoa humana, imagem de Deus formada na Criação e re-formada na Encarnação do Verbo? Todavia, é sempre o pecado, com suas multíplas expressões pessoais e sociais, que de-forma essa imagem, que lhe nega e avilta. Daí tantos rostos de-formados pela abissal, persistente e escandalosa desigualdade num país de “tradição cristã”. No âmbito mundial, guerras estúpidas (existe guerra sensata?) reforçam ódios, pré-conceitos, barreiras e geram dor e morte num jogo de retaliações e vingança nada próprias de uma “Civilização” que se diz cristã.
O poema que abre este artigo, do grande poeta pernambucano Manuel Bandeira (+1968), convida a olhar corpos de-formados, dignidades feridas de quem vive de sobras, de restos das mesas dos epulões. De fato não aprendemos a lição do Natal. Ousamos romantizar o nascimento do Deus-humanado em uma estrebaria (foi o que sobrou, pois “não havia lugar para eles na hospedaria”, como afirma o Evangelista) e a substituí-lo por um velhinho lendário e bem adequado aos gostos consumistas e neoliberais. Não é também pequena a tentação de substituirmos o cerne da mensagem natalina, evangélico, por mensagens piegas, nada in-cômodas e desafiadoras, carregadas de sentimentalismo estéril, efêmero e intimista. Estamos distantes de Francisco de Assis, que ao se encantar com o mistério da humildade de Deus des-velada no Natal, “cria” o presépio para vislumbrar a concretude da sua pobreza: “Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e ver com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro” (1 Celano 84).


O Natal anuncia que o Filho dileto do Pai despoja-se de sua divindade para re-vestir de dignidade nossa humana condição. O Verbo se faz corpo re-velando a sacralidade inviolável de cada corpo humano. Celebrar dignamente o Natal implica, portanto, em reconhecer que o humano é caminho inexorável para se chegar ao divino. Não se pode acolher o Cristo que vem ao nosso encontro sem deixar-se encontrar e interpelar pelo outro, particularmente os feridos e negados em sua dignidade, tratados como bichos. Apoiar (concretamente) movimentos, grupos, entidades e associações que estão a serviço da afirmação e do resgate da dignidade humana é possível gesto concreto de quem aprende que celebrar o nascimento dAquele que se faz nosso irmão é irmanar-se, romper velhas crostas de egoísmo e indiferença. Na festa do Deus in-visível que se faz visível em nossa carne, abramos os olhos para re-conhecer os in-visíveis de nossa sociedade!

 Neste período privilegiado, sonhemos com um tempo novo, no qual a nenhum ser humano seja imposta condição des-humana. Esse é o sonho de Deus! Empenhemo-nos, com nossa responsabilidade e compromisso, ensaiando um tempo novo daquela Paz anunciada pelos anjos aos humildes pastores. Paz que é fruto da Justiça!
Que o Natal nos in-comode e des-instale como homens e mulheres encantados pelo Deus que na sua ternura amorosa dá-se por inteiro a nós (quem ama não dá sobras, nem restos). Caso contrário “haverá luzes, festas, árvores iluminadas, presépios, (…) mas é tudo falso”, como bem lamentou o Papa Francisco recentemente.

Dom Beto Breis, ofm
Diocese de Juazeiro – Bahia
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13 de dez. de 2017

DOM BETO BREIS RECEBE O TÍTULO DE CIDADÃO JUAZEIRENSE E PEDE ATENÇÃO PARA POBRES E PERIFERIAS

O Bispo da Diocese de Juazeiro, Dom Beto Breis, recebeu na noite desta terça-feira (12) na Casa Aprígio Duarte o título de cidadão juazeirense. Representantes de entidades da sociedade civil, vereadores, militares, padres, religiosas e membros de pastorais e movimentos da Igreja se fizeram presentes na solenidade ocorrida no auditório da Câmara de Vereadores municipal. Em seu discurso, Dom Beto agradeceu a homenagem ressaltando que ela é um reconhecimento ao trabalho desenvolvido pela Diocese na região e pediu mais compromisso dos legisladores com a população mais pobre e com as periferias.



Confira o discurso de Dom Beto na íntegra a seguir:

DISCURSO DE DOM BETO BREIS POR OCASIÃO DA RECEPÇÃO DO TÍTULO DE CIDADÃO JUAZEIRENSE

Casa Aprígio Duarte Filho – Juazeiro (BA),
12 de dezembro de 2017

Exmo Sr. Alecssandre Rodrigues Tanuri, vereador proponente e Presidente desta casa, na pessoa de quem saúdo os demais vereadores e os demais membros desta mesa, autoridades civis e militares aqui presentes,
Amados diocesanos (sacerdotes, religios@s e fiéis cristãos leigos),


Inicialmente gostaria de agradecer esta homenagem que é, em primeiro lugar, à Igreja que está em Juazeiro. Digo isto porque não me vejo com tantos méritos e nem gabaritado pelo tempo para receber este título que, sem dúvida, é um privilégio: estou aqui há apenas um ano e sete meses. Recebo esta honraria como Pastor de uma Diocese viva e atuante nesta já amada cidade de Juazeiro. “Onde está o Bispo, aí está a Igreja” já afirmava Santo Inácio de Antioquia no segundo século. A Diocese de Juazeiro – com todo o Povo de Deus (pastores, religiosas e fiéis cristãos leigos) é quem merece o reconhecimento por sua história de uma Igreja samaritana, atenta às dores, às angústias e às esperanças dos homens e mulheres destas margens sertanejas baianas do Velho Chico. No próximo sábado, por sinal, re-cordaremos o centenário do nascimento do nosso primeiro bispo, Dom Thomas Murphy, que desde o início do seu ministério episcopal promoveu a educação (com escolas em pontos estratégicos da periferia de então) e diversas obras e atividades sociais (junto a lavadeiras e a prostitutas, por exemplo). Naquele período fecundo e impulsionador do Concílio Vaticano II, Dom Tomás lançava as bases de uma Igreja que privilegia os pobres e vê no compromisso social não um apêndice, mas uma dimensão imprescindível da ação pastoral e evangelizadora.


Sou consciente, por outro lado, que o título de Cidadão Honorário equipara a pessoa homenageada a uma adoção oficial. A pessoa agraciada passa a ser um irmão, um conterrâneo, uma pessoa da terra, apesar de não ter nascido no local. Fico, portanto, imensamente feliz e honrado com essa distinção concedida. Nasci nas margens de uma baía no litoral de Santa Catarina que foi erroneamente identificada por viajantes espanhóis como um rio, o Rio São Francisco...do Sul (porque visitado pelos navegantes no dia do Santo de Assis). Das margens do “rio” São Francisco do Sul vim para estas margens sertanejas baianas do Velho Chico, onde já me sinto em casa, no aconchego e cordialidade de um povo alegre e acolhedor.
E agora, como cidadão juazeirense e bispo de uma Igreja cidadã e defensora da cidadania de todos, quero parabenizar os senhores e senhoras desta Casa do Povo por terem aprovado na íntegra nesta tarde o Plano Municipal de Saneamento Básico de Juzaeiro. A revitalização dos córregos e riachos que correm e percorrem nossa cidade é urgente, para o bem da Casa Comum (irmã água, irmãs plantas....) e para o cuidado das populações.  Uma reivindicação justa do MPC (Movimento Popular da cidadania), que se faz porta-voz do anseio – consciente e inconsciente - da população.

Atrevo-me, ainda, a pedir aos homens públicos aqui presentes que não se esqueçam dos mais pobres, dos vulneráveis e sedentos de justiça e de direitos respeitados. Para nós crentes das mais diversas denominações cristãs a opção pelos pobres é de matriz teológica, não primeiramente sociológica. Daqui a poucos dias, no Natal, iremos celebrar o mistério encantador e desconcertante do Filho de Deus que “sendo rico, se fez pobre para enriquecer-nos”[1], como lembra o Apóstolo. Fez-se pobre e frágil no sublime mistério da Encarnação e proclamou bem aventurados os pobres, de quem é o Reino dos céus[2]. Os empobrecidos tantas vezes desprezados pelos que detém o poder são vítimas de uma sociedade regida por mecanismos materialistas que, como afirmava peremptoriamente São João Paulo II, “produzem, em nível internacional, ricos cada vez mais ricos à custa de pobres cada vez mais pobres” [3]
Como homens públicos, re-presentantes do povo, lutem para que dívidas sociais sejam ressarcidas. Visitem os pobres, ouçam seus clamores, vejam seus sofrimentos, exerçam seus mandatos a partir das periferias (pois aí está o centro do Evangelho e o começo de uma ordem social equitativa e promotora de Paz). Neste sentido, tornam-se oportunas as palavras do Papa Francisco:
“Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. A política, tão manchada, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum”[4]
Finalizando, agradeço a todos pelo título que para sempre muito me orgulha e orgulhará.  Obrigado aos Sr vereador Alecssandre Tanuri por propor essa distinção e pelos demais vereadores  pela aprovação da mesma. Minha terna, fraterna e paternal gratidão a todos de nossa Diocese de Juazeiro pela alegria do dom e desafio da sinodalidade (do caminhar juntos) no Seguimento de Jesus e no serviço ao Reino que ele anunciou e inaugurou entre nós.
Que a ponte que une Juazeiro e Petrolina, Bahia e Pernambuco, seja sinal da efetivação do que deve ser minha presença pastoral neste e nos demais municípios de nossa vasta Diocese: fazedor de pontes, sinal e promotor de unidade e comunhão. Posso, com convicção, dizer-lhes hoje que desde a nomeação para bispo de Juazeiro meu coração sentiu-se vinculado a esta cidade. Por ocasião da minha ordenação episcopal afirmava que “em breve período de tempo já poderia atrever-me a adaptar a bela e renomada canção de Jorge de Altinho:

         “Petrolina, Juazeiro. Juazeiro, Petrolina.
Todas as duas estimo o tempo inteiro.
Eu gosto de Petrolina, mas ADORO Juazeiro”

Muito obrigado!

Dom Beto Breis
Bispo da Diocese de Juazeiro/BA




[1] 2Cor 8,9
[2] Cf. Lucas 6,20
[3] Discurso inaugural da Conferência do Episcopado latino-americano, Puebla, México, 28/1/79,
[4] Evangelii Gaudium, 205


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4 de dez. de 2017

BISPOS DA BACIA DO SÃO FRANCISCO FAZEM NOTA EM DEFESA DO VELHO CHICO


CARTA DA LAPA
Primeiro Encontro dos bispos da Bacia do Rio São Francisco


“Nas margens da torrente, de um lado e de outro, haverá toda espécie de árvores com frutos comestíveis, cujas folhas e frutos não se esgotarão. Essas árvores produzirão novos frutos de mês em mês, porque a água da torrente provém do santuário. Por isso, os frutos servirão de alimentos e as folhas de remédio” (Ez 47,12).
À luz do Evangelho, em comunhão com o Papa Francisco e inspirados pela carta encíclica “Laudato Sí”, nós, bispos da bacia do Rio São Francisco, representando onze das dezesseis dioceses, diante do processo de morte em que este Rio se encontra e das consequências que isto representa para a população que dele depende, assumimos de forma colegiada a defesa do Velho Chico, de seus afluentes e do povo que habita sua bacia.
Como pastores a serviço do rebanho que nos foi confiado, constatamos, com profunda dor: (a) o sumiço de inúmeras nascentes de pequenos subafluentes e, em consequência, o enfraquecimento dos afluentes que alimentam o São Francisco; (b) o aumento da demanda da água para a irrigação, indústria, consumo humano e outros usos econômicos, sem levar em conta a capacidade real dos rios de ceder água; (c) a destruição gradativa das matas ciliares expondo os rios ao assoreamento cada vez maior; (d) a decadência visual dos rios e da biodiversidade; (e) o aumento visível dos conflitos na disputa pela água em toda a região; (f) empresas sempre fazem prevalecer seus interesses e o Estado acaba por ser legitimador de um modelo predatório de desenvolvimento.
Tudo isso vem gerando a destruição lenta e cruel da biodiversidade do Velho Chico e, consequentemente, sua morte gradativa.
Diante dessa triste realidade, enquanto bispos da bacia do Rio São Francisco e pastores do rebanho que nos foi confiado, propomos:
1.    Sermos uma “Igreja em Saída”: Ir ao encontro do povo e, como pastores, convocar os cristãos e as pessoas sensíveis à causa, para juntos assumirmos o grande desafio de salvar o rio da morte e garantir a vida humana, da fauna e da flora que dele dependem;
2.    Sermos uma “Igreja Missionária”: Realizar visitas às nossas comunidades, missões, peregrinações, romarias e estabelecer um diálogo aberto com as pessoas para que entendam e assumam, à luz da fé, o cuidado com a “Casa Comum”, particularmente, a defesa do nosso Rio;
3.    Sermos uma “Igreja Profética”: Elaborar subsídios educativos sobre meio-ambiente e o modo de preservá-lo. Utilizar os meios de comunicação, rádios, periódicos diocesanos para levar ao maior número de pessoas a boa nova da preservação da vida;
4.    Sermos uma “Igreja Solidária”: Reforçar as iniciativas populares de recomposição florestal, recuperação de nascentes, revitalização de afluentes; incentivar a ética da responsabilidade socioambiental capaz de gerar um modo de vida sustentável de convivência com a caatinga, o cerrado e a mata atlântica; defender políticas públicas para implementação do saneamento básico, apoio à agricultura familiar, manutenção de áreas preservadas, a exemplo dos territórios das comunidades tradicionais de fundo e fecho de pasto, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores, etc.
5.    Finalmente, declaramos nossa posição em defesa do “Repouso Sabático” para os nossos biomas a fim de que possam se reconstituir. Particularmente, uma moratória para o Cerrado, por um período de dez anos. Durante esse período não seria permitido nenhum projeto que desmate mais ainda o Cerrado, a Caatinga e a Mata Atlântica, biomas que alimentam o Rio São Francisco e dele também se alimentam.
6.    Nesse sentido chamamos as autoridades federais, os governadores, prefeitos, deputados, senadores, o Ministério Público, para que assumam sua responsabilidade constitucional na defesa do Velho Chico e do seu povo.
Que São Francisco, padroeiro da Ecologia e do Rio que traz o seu nome, nos inspire a cuidar da Criação. Que o Bom Jesus da Lapa, de cujo Santuário provém a água da torrente, abençoe e dê vida ao nosso Velho Chico e ao povo do qual ele é pai e mãe.
Bom Jesus da Lapa, 1º Domingo do Advento de 2017.


Bispos Participantes

Dom José Moreira da Silva – Bispo de Januária (MG)
Dom José Roberto Silva Carvalho – Bispo de Caetité (BA)
Dom João Santos Cardoso – Bispo de Bom Jesus da Lapa (BA) 
Dom Josafá Menezes da Silva – Bispo de Barreiras (BA)
Dom Luiz Flávio Cappio, OFM – Bispo de Barra (BA) 
Dom Tommaso Cascianelli, CP – Bispo de Irecê (BA)
Dom Carlos Alberto Breis Pereira, OFM – Bispo de Juazeiro (BA) 
Monsenhor Malan Carvalho – Administrador Diocesano de Petrolina (PE) 
Dom Gabriele Marchesi – Bispo de Floresta (PE)
Dom Guido Zendron – Bispo de Paulo Afonso (BA)
Monsenhor Vitor Agnaldo de Menezes – Bispo eleito de Própria (SE)
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